Ninguém é bom e ninguém é mau. Às vezes somos mocinhos, às vezes somos vilões. A natureza humana não cabe dentro dos princípios antagônicos do maniqueísmo, em que há o bem absoluto, representado por deus, e o mal absoluto, representado pelo demônio.
Essa é a opinião de quem acredita que até o mais desprezível dos seres é capaz de demonstrar amor, assim como os maiores exemplos de benevolência têm seus momentos de malícia. Somente duas exceções me convencem do contrário: a psicopatia e o ponto de conquista do estado máximo de libertação e paz espiritual, ou seja, o nirvana. Se não for o caso, ninguém ganha toda a minha confiança nem todo o meu desprezo. Desafio, inclusive, tu que me lês a não lembrar um ato sequer de maldade e um de bondade já cometidos.
Claro que temos tendências mais benevolentes ou mais maldosas. Mas todos nós, transitamos por ambos os lados. Por isso, acho muito mais interessantes e sedutores os personagens da ficção que representam essa complexidade; em vez dos clichês, que são cem por cento vilanescos ou cem por cento bondosos.
Nesse sentido, a Mércia, interpretada pela Adriana Esteves na novela Mania de Você, me ganha. João Emanuel Carneiro foi certeiro ao escrever essa persona tão intrigante; e Adriana Esteves foi cirúrgica na atuação da atriz. Apesar de a maioria dos telespectadores julgá-la como perversa, eu tive empatia por sua carência e solidão. E percebi, em alguns instantes, sentimentos bons escondidos embaixo das camadas generosas de frieza.
Pela mesma razão, Molina, interpretado por Rodrigo Lombardi, ainda não me parece intrigante. Essa figura tão cruel não me convence, e a falta de nuances me soa superficial. Vamos ver se isso se manterá ou se haverá alguma reviravolta. No mais, Mania de Você me agradou muito nesses primeiros capítulos. Tem tudo para ser sucesso.
Bá experiência por Diogo Zanella do Estúdio Telescópio.
Nesta semana, no podcast Bá que papo, comentamos os dois primeiros capítulos da nova novela da Globo, Mania de Você, de João Emanuel Carneiro. Ouça agora no Spotify clicando aqui. Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.