Maio de 2012. Viajo à cidade de São Paulo com uma amiga, a Bibiana, conhecida vulgarmente como Bib’s. Assim mesmo, com apóstrofo, tipo as bolinhas de chocolate. Foi minha segunda ida à Paulicéia Desvairada e a primeira vez dela.
Naquele ano, Noel Gallagher uniu sua fase solo ao repertório da banda Oasis, em um show no Espaço das Américas. Bib’s era fã, e, por isso, pediu ao primo, que dividia apartamento na Avenida Paulista com outros dois gays, um cantinho pra ficar. Um não, dois.
Recebi o chamado à aventura e aceitei o convite. Não pra assistir ao show, claro, afinal, desconheço algum homem não-heterossexual afeiçoado em Oasis (talvez existam). Ao concerto do Noel ela foi sozinha. Até me questionei, na época, se um dia eu teria essa admiração por algum artista, a ponto de ir sem compania a uma apresentação. Nunca havia sido, até aquele momento, realmente fã de alguém. Topei a viagem só pra borboletear mesmo. Aos 23 aninhos, encaramos qualquer perrengue. E tiveram alguns.
Briga generalizada entre os três moradores do apartamento logo que chegamos. Para não dizer que o imóvel era insalubre, limpeza, digamos, não era o forte do trio que nos hospedou. Fez uma friaca de 10ºC. E, no auge da nossa ignorância, acreditávamos não existir frio acima do Paraná. Completamente despreparados, sem roupas para baixas temperaturas, quase tivemos hipotermia.
Outras peripécias: em uma noite, saímos os cinco mais o namorado do primo da Bib’s. Eis que ela cai e torce o pé no meio do asfalto ao atravessar a rua. Entramos em um inferninho da Augusta e recebemos uma prensa das garotas: “e aí, vão ficar só olhando?” Nos dirigimos para a saída mais próxima. Bib’s e o primo discutem. Bib’s fica putaça porque só fomos a lugares frequentados exclusivamente por gays.
(exceto o inferninho). “Só gostaria de saber o que pessoas héteros fazem em São Paulo, é pedir muito?”.
Mas foi, no fim, uma viagem inesquecível. Principalmente por um detalhe.
Certa madrugada, no apartamento, decidiram colocar o DVD do documentário Na Cama com Madonna para acalmar os ânimos. O filme mostra os bastidores da icônica turnê mundial Blond Ambition, de 1990. Aquela tour proibida pelo Papa na Itália e pela qual a Rainha do Pop foi ameaçada de prisão por comportamento obsceno no Canadá. O filme da famosa cena em que Madonna simula sexo oral na garrafa, e que mostra o encontro frustrado dela com Antonio Banderas, até então seu crush.
Quando a Bibiana me convidou para essa viagem, ela já gostava muito de Oasis e do Noel. Eu não tinha nenhum ídolo, como já mencionei. Ao assistir Na Cama com Madonna, porém, foi impossível não ser arrematado.
Por meio do documentário, ao acompanhar a relação dela com a equipe, sendo uma mãe para dançarinos, percebi que ali se encontrava uma embaixadora na luta pela igualdade. Uma artista que fez que ia seguir fazendo história, e sendo importante politicamente para o mundo. Observar a abordagem de temas tabus em 1990, como homossexualidade, religião e divórcio, me fez pensar: caralho, que mulher foda e à frente do seu tempo. Foi naquela noite que Madonna ganhou mais um fã. E eu, uma ídola.
A propósito: se você, que me lê, não entende, não conhece, não possui alguma ligação emocional com a Rainha do Pop, e gostaria de se aprofundar nela, assista a este documentário.
De volta a Porto Alegre, mergulhei no álbum MDNA. Fiquei obcecado pelo clipe de Girl Gone Wild e, evidentemente, não poderia deixar de ir ao show do dia 9 de dezembro de 2012, quando a MDNA Tour passou pela capital do Rio Grande do Sul.
Comprei meu ingresso em uma loja da Multisom, no centro da cidade. Pista normal. Fui sozinho. Que ironia. Refletir sobre a minha amiga ter ido ver o Noel solita, e menos de um ano depois eu estava fazendo o mesmo. Na MDN Tour, conheci o Rodrigo, vulgo marido, e sua amiga Júlia Zago, que já participou do podcast Bá que Papo.
Basicamente, a viagem a São Paulo em 2012 culminou em meu encantamento por Madonna, que culminou no meu casamento, que culminou na agência Estúdio Telescópio, que culminou no podcast Bá que Papo, que culminou nesta coluna, a Bá Experiência, que culminou neste texto que você lê agora.
E tudo isso, por sua vez, culminou no episódio 69 do Bá que Papo com a Claudia Avellar, a Clau da página Madonna Literal, para falarmos: é real. A rainha vem aí, para encerrar no Brasil a The Celebration Tour nas areias de Copacabana, no Rio de Janeiro. E nós — eu, Rodrigo e Clau — estaremos lá.
Para ouvir este episódio do podcast Ba que papo no Spotify clique aqui. Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.
Bá experiência por Diogo Zanella do Estúdio Telescópio