Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio
Há 10 anos, eu tinha 20 e poucos. O Dani, um amigo meu, se aproximava dos 40. Antes de ele deixar Porto Alegre e ir morar no Rio, éramos tinhosos.
Algumas semanas o roteiro era o mesmo: terça no karaokê do bar Venezianos, sexta no Ocidente e sábado em um lugar qualquer — por vezes de reputação duvidosa e qualidade mediana.
Certa vez, perguntei como alguém com quase 40 anos tinha tanta energia. A resposta me marcou tanto que nunca esqueci. O Dani disse que não existe idade pra parar de se divertir. De viver. De fazer o que nos deixa feliz. Qualquer argumento contrário, para ele, era preconceito de idade. E era mesmo.
Naquela época, isso não existia nome, ao menos não que eu soubesse. Hoje, no entanto, conheço mais de uma nomenclatura para o que o Dani queria dizer: ageismo e etarismo. Essas duas palavras são usadas para descrever práticas discriminatórias com base em idade, geralmente a partir de estereótipos contra pessoas de idades diferentes da nossa.
Diversas vezes o Dani falou sobre o preconceito dentro da comunidade gay com pessoas mais velhas. E, de fato, havia julgamento, olhares maldosos, e comentários desagradáveis nesse sentido.
Esta semana, eu e meu marido, Rodrigo, voltamos a assistir Sex and The City. Produzida pela HBO entre 1998 e 2004, a série apresenta quatro amigas solteiras na casa dos 30 anos, que têm uma vida social agitada em Nova York. Decidimos rever após faltarem dois episódios para terminar a segunda temporada de And Just Like That, a continuação da história.
Sex and The City não envelheceu bem. E isso não é um comentário ageísta/etarista. Explico.
Existem críticas pela falta de diversidade de Sex and The City, já que a série retrata uma bolha branca, sem representatividade. Algo corrigido em And Just Like That Ainda assim, Sex and The City foi revolucionária para a época ao retratar quatro amigas acima dos 30 anos falando abertamente entre si sobre sexo, e todos os tabus que o assunto envolve. O que, embora a série não seja considerada feminista, ajuda a descontruir padrões esperados de comportamento e papel de gênero.
Mas, ao gravar o podcast Bá que Papo desta semana, a nossa convidada, Marina Smith, falou algo interessante, que me fez ir além. E lembrar do Dani.
“Tem muito do etarismo. A gente fica muito na ideia do amor idealizado, no qual conhecemos um grande amor aos 20 e poucos anos e acabou. Mas tem gente que separa, que fica solteira de novo. E como é a vida com 40, 50 anos nesse mundo do date? Estou com 40, a caminho dos 50, então isso me interessa.”
Essa fala da Marina me fez pensar sobre a importância de Sex and City e de And Just Like That também na questão do ageísmo/etarismo. De que há muitas descobertas a se fazer, trabalhos novos e possibilidades de vida social agitada e aventuras amorosas para pessoas depois dos 50, dos 60 e assim por diante.
A Carrie (Sarah Jessica Parker) reencontrou um amor o do passado, o Aidan
(John Corbett). A Miranda (Cynthia Nixon) descobriu um lado novo da sua sexualidade e voltou ao mercado de trabalho como estagiária. Charlotte (Kristin Davis) sentiu que era o momento de voltar a se sentir ela mesma, e aceitou um emprego em uma galeria de arte.
Tu tinhas razão, Marina. Sex and the City e And Just Like That também é pra pensar sobre ageísmo/etarismo. Tu também tinhas razão, Dani. Não existe idade pra parar.
No episódio do podcast Bá que Papo desta semana, matamos o saudosismo relembrando Sex and The City e fazendo uma análise dos novos episódios de And Just Like That, com a ilustre presença da Marina Smith. Também comentamos as polêmicas entre Kim Cattrall e Sarah Jessica Parker, a Samantha e a Carrie.
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Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio