Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio
O ano era 2012. Dia 6 de março. Em casa, de forma descompromissada, eu e minha mãe assistíamos, chocados, à atuação da então atriz infantil Mel Maia, a famosa Rita na primeira fase de Avenida Brasil. Ao término do primeiro capítulo, nos olhamos. “Essa novela vai ser boa, né?”. “Vai.”
E foi. Um fenômeno do autor João Emanuel Carneiro. A primeira novela que acompanhei por duas telas: um olho na TV, outro no computador para conferir os comentários e memes — que também eram novidade na internet. Uma trama sobre vingança e uma vilã inesquecível. Minha definição ideal de Avenida Brasil. E de Todas as Flores.
Desde os primeiros burburinhos de Todas as Flores registrei na mente as mesmas informações da novela da Carminha (Adriana Esteves): João Emanuel Carneiro, uma trama sobre vingança e uma vilã que será inesquecível — e vivida por Regina Casé. Mas, afinal, foi tudo isso mesmo? Sim, foi.
Em uma avaliação geral, a obra é icônica, embora na segunda temporada parte do público tenha desertado. Compreensível.
A primeira temporada é, de fato, infinitamente superior. E a reta final teve muitos problemas de clímax. Um deles, a descoberta da fazenda onde eram levadas as vítimas da organização criminosa que praticava, entre outras coisas, tráfico humano. Algo que foi mostrado de forma atropelada. Outro clímax aguardado era a grande vingança de Maíra (Sophie Charlotte), a filha de Zoé (Regina Casé) que nasceu completamente deficiente visual e fez uma cirurgia para ter baixa visão, e assim se vingar da própria mãe.
Mas qual foi a vingança? Comprar uma criança do Galo (Jackson Antunes), ser presa e fugir da cadeia? Para depois obrigar Zoé a confessar que ela era inocente?
Além disso, tiveram alguns furos. Na primeira temporada, por exemplo, é mostrado que Zoé e Humberto (Fábio Assunção) se conheceram na juventude, quando Humberto era carroceiro. E que Zoé o ensinou a bater carteira. Na segunda temporada, porém, é revelado que Humberto foi criado por Galo. Mas a Zoé não tinha sido mulher do Galo no passado?
E a investigação sobre a fazenda da organização? Não tiveram depoimentos dos jovens que caíram no esquema de aliciamento da Fundação Cinco Horizontes? Não se chegaria, de forma natural, até a Garcia e a Zoé, que promovia leilões beneficentes para o seu “trabalho social”?
Pois é, tiveram lacunas esquisitas. Contudo, como eu disse, apesar desses lapsos, o saldo geral de Todas as Flores foi sim positivo. A novela foi transgressora, inovou, ousou e marcou a era das novelas produzidas integralmente para o streaming. A ficção dificilmente vai ser perfeita. Avenida Brasil também não foi. E mesmo assim marcou uma geração. Como dizemos na minha família, “é assim porque é novela”. E, afinal, por mais boa e memorável que seja uma novela, nem tudo são flores.
Nesta semana, no podcast Bá que papo, recebemos a Larissa Martins, do Coisas de TV, para falar sobre Todas as Flores e várias outras tramas!
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Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio