“Só o imperfeito pode evoluir. O perfeito já se estagnou, cristalizou-se. Portanto, só o imperfeito tem futuro”

Bert Hellinger

Quem tem mais de 40 anos, deve lembrar-se dos antigos discos de vinil. No lado A, havia os hits mais tops. O B a gente se acostumava com as músicas que não eram tão contagiantes, mas faziam parte do projeto. No caso do ser humano, o lado B é considerado aquele que contém o lado mais sombrio da personalidade. E, geralmente, não é alvo de muita publicidade. Ninguém posta nas redes sociais suas manias, chatices, mesquinharias, invejinhas. O mais normal é abafar o caso. Às vezes, até de si mesmo. São os famosos pontos cegos e olhe que não estamos falando de retrovisor de carro.

A ironia desse comportamento de esconder a sombra embaixo do tapete é justamente porque são essas imperfeições que nos dão um toque de singularidade. Saber que nem sempre se é bacana ajuda também a ser menos julgador, pois temos a certeza de que de perto “ninguém é normal”, como diria Caetano. Também é esse lado torto que nos atrapalha no trabalho, na família e nas relações, que nos impulsiona a correr atrás para “consertar” e, como consequência, subimos alguns degraus na evolução da nossa consciência. Isso, claro, aqueles que olham para si mesmos e não colocam a culpa nos outros por seus problemas. Para estes últimos, como estão certos, não há o que alterar. Passam anos e eles seguem perfeitos e cometendo os mesmos erros. Sem desconfiar de nada…

Na minha visão, a Espiritualidade é a busca por autoconhecimento, por se tornar um ser mais amoroso e empático que tenha a coerência de traduzir esse aprendizado em ações, palavras e pensamentos no cotidiano. Com o tempo, percebi que grande parte dessa caminhada vem da sombra e que não é feita exatamente de luzes, gratidão e felicidade. Se um setor da vida flui bem, ótimo. Tudo que diz respeito a isso anda sozinho e podemos usufruir dos resultados sem precisar muito esforço.

Já o que dói, o que dá aperto na garganta e no estômago, pode apostar que é daí que sairemos melhores se nos concedermos a chance de integrar essa parte que ficou congelada por trauma, medos, educação rígida ou até mesmo por uma interpretação equivocada de um fato, mas que ficou gravada dessa maneira. Nesse processo, talvez seja necessário buscar ajuda de terapia, de remédio, de técnicas e ferramentas para entender estes bloqueios dentro da história pessoal ou familiar. São estes registros que nos mantêm presos, sem o poder de plantar e colher bons frutos na área afetada. E a raiz deles dificilmente está aparente. Mas podemos encontrá-la quando temos disposição de cavar mais fundo.

Por Liège Alves, jornalista, terapeuta floral e mestre em rakiram

CategoriasSem categoria

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.