O nome é bom, sonoro. Borogodó tem ritmo, balanço. Fui buscar o significado e a origem da palavra, mas não encontrei muitas pistas. A expressão quer dizer atrativo, aquele charme especial que cada um tem. Ou devia ter, pelo menos.
Conhecida como uma expressão antiga, usada em morros cariocas, no samba acompanhada de um ziriguidum, a palavra é democrática e atravessa classes sociais. Já virou notícia quando o juiz Gilmar Mendes alegou que Sergio Moro se achava o “ó do borogodó” quando fez parte da Lava Jato e se colocou acima da lei.
Mas a questão aqui é outra: fazer justiça para essa palavra maravilhosa e o seu significado. Somos tão sovados e patrolados por atividades intensas que é fácil esquecer do nosso diferencial, aquele toque a mais que nos diferencia.
Os antigos chamavam de “it”. Era uma qualidade especial. Aquele brilho no olho. Mas a vida contemporânea e adulta vai nos achatando e padronizando. Quem é um pouco diferente e foge da regra pode ser julgado e condenado ao cancelamento. Melhor seguir a matilha sem muitos arroubos de criatividade.
Não é fácil ser plural em um tempo de avatares. Mas a palavra borogodó, pelo seu caráter polissêmico (múltiplos significados), nos estimula a isso. Só de dizê-la já dá uma certa alegria. Deve ser prima do escalafobético, outra que tem uma sonoridade ótima. É como falar arrastado e deliciosamente biss-cooii-to. Ou patife, de um jeito rápido que soa como uma bofetada!
Podemos sentir a alegria da criança que fomos um dia chegando quando nos expressamos sem medo. Talvez essa seja uma forma de ter borogodó de volta na vida. Não se levar tanto e tudo tão a sério.
Convoco a todos a resgatarem seus borogodós, seus talentos esquecidos, seu jeito maneiro de ser. Seu gingado, flexibilidade e elegância nos desafios. Missão difícil, mas vale tentar. Manifestem esse jeito de ser único que ajuda a temperar a vida com mais alegria e encanto. Só, por favor, não se achem o “ó” por fazerem isso. Senão, perde a graça.
Por Liège Alves, jornalista, terapeuta floral e mestre e rakiram