Na definição do dicionário online dicio.com.br, catarse é um sentimento de “libertação do que estava reprimido ou sensação de alívio causada pela consciência de sentimentos ou traumas anteriormente reprimidos”. Considerando esse significado, posso afirmar que tive uma catarse ao assistir à primeira temporada da série Os Outros, em junho de 2023.
Eu estava, ano passado, preocupado com um medo recorrente que vinha sentindo de pessoas. Desenvolvi um estado de alerta de uns pra cá, com bastante desconfiança sobre intenções, crenças, temperamento e caráter em relação “aos outros” da vida real. Como se qualquer desconhecido fosse um perigo em potencial. Principalmente se tratando de vizinhos. Por isso foi catártico assistir à primeira temporada de Os Outros.
Quando acompanhei essa série me senti compreendido pelo criador da obra, o Lucas Paraizo. Pensei: “tá vendo? Eu estava certo. Vizinhos são mesmo perigosos, melhor manter distância.”
Antes que tu me imagines enclausurado, tendo crises de ansiedade e fobia social, não se trata disso. Vivo normalmente, e meu trabalho, a propósito, exige comunicação constante com “os outros” (desculpem, trocadilhos são minha perdição). E olha que sempre gostei de pessoas, de falar, ouvir, interagir. Mas, sejamos honestos: recentemente, não parece que todos andam mais intolerantes, agressivos e egoístas? Aparentemente, pra mim, está “cada um por si e todos contra todos”. Seria um sintoma das bolhas criadas pelos algoritmos das redes sociais? Uma consequência da polarização política? Um efeito das crises (guerras, pandemia, novas doenças, emergência climática)? Não sei.
Compreendo, porém, que o enredo da primeira temporada de Os Outros me seduziu por alertar — inspirado em casos reais — sobre uma sociedade intolerante, a ponto de um desentendimento banal entre vizinhos escalar para a violência e o crime. Então, ao ser anunciada a segunda temporada, esperei algo na mesma linha. Não foi o que aconteceu.
Muitos estão gostando. Infelizmente, não é o meu caso. Os conflitos paralelos — Cibele (Adriana Esteves) procurando por Marcinho (Antonio Haddad); Paulo (Sergio Guizé) e Maria (Mariana Nunes) transando no metaverso; Raquel (Letícia Colin) tentando ser mãe — estão sendo desinteressantes pra mim. Mesmo com as atuações brilhantes. Enfim.
Com o perdão do trocadilho infame (lá vou eu novamente com esse fetiche) para aqueles que estão gostando da segunda temporada de Os Outros, não tenho nada com isso. Problema dos outros.
Bá experiência por Diogo Zanella do Estúdio Telescópio.
Nesta semana, no podcast Bá que papo, conversamos sobre os primeiros seis episódios da segunda temporada da série Os Outros. Será que eu, o Rodrigo e a Mariana compartilhamos da mesma opinião?
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