Dia desses, num encontro de adultos, a Mari Bertolucci me olhou com aqueles olhos de criança que brincou e disse: “Quer escrever para a Revista Bah?”  Escreve sobre o que você quiser, pode ser semanal, mensal, como achar melhor, pois imagino que tenha muito para contar com todos os seus anos de experiência com educação infantil, o convívio com as crianças, lidar com as famílias e seus entornos, além do teu trabalho como curadora de arte para a infância.

Aceito o convite, pensei em trazer para esse primeiro texto uma reflexão sobre o brincar. Mas antes, queria perguntar: Você brincou? Eu brinquei bastante na minha infância, fui daquelas crianças privilegiadas de passar os meus primeiros 11 anos no interior, em Guaporé, no RS.

No pátio da minha casa, que era bem grande, o pai da minha mãe, o Vô Orlando, fez para mim uma casinha de boneca, era pequena, mas para mim era uma mansão e na minha mansão tinha até pia com água corrente e minhas panelinhas eram de verdade. A irmã da minha mãe, a tia Reny, que morava em Porto Alegre na época, me trazia bules, xícaras e pratinhos de ágata vermelha, comprados nas Lojas Sloper.

Já a mãe da minha mãe, a vó Adelaide… essa era outra história… Essa vó me emprestava a horta dela e também o jardim. Lembro que ela me emprestava também um “balainho” de palha e eu a imitava, colhendo coisas na horta para cozinhar”. Juntas, colhíamos pimentões vermelhos, verdes e cenouras – ela cozinhava na casa dela e eu na minha casinha. Eu devia ter uns 6 anos. Uma vez, comi tanto pimentão que, no final do dia, quando fui tomar banho, minha mãe veio me alcançar uma toalha, me viu pelada e gritou: MÃAAAAAAE!

A vó, que morava no andar de cima, desceu as escadas correndo para ver o que tinha acontecido e, num segundo, sentenciou o diagnóstico: “Essa guria tá com urticária é dos “pimentons”, com aquele sotaque de vó italiana. Esse recorte da minha pequena infância diz muito do que sou e acredito: que o trabalho da criança deveria ser o brincar. Mas por que o brincar é tão importante?

Para pensar “fora da caixa”, para encontrar soluções inovadoras para questões complexas e, de lambuja, para nos divertirmos. Através dos olhos de quem brinca, aceitei o convite e espero convidar você para brincar conosco também.

E para terminar, uma dica de livro para as crianças pequenas, médias e grandes: Brinquedos, do autor André Neves e a Editora é a Ave-Maria.

Valesca Karsten

Educadora, Proprietária da Escola de Educação Infantil Caracol de Porto Alegre, Curadora de arte para a infância, Pesquisadora e idealizadora do Podcast PodeMãe @karstenvalesca

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