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Ortodontia na dentição mista torna eletivo o tratamento dos permanentes?

O texto “Randomized clinical Trial of interceptive and comprehensive orthodontics” publicado pelo maior jornal científico da Odontologia, Journal Dental Research, por Greg Huang e seu grupo da Unversity of Washington estudou a efetividade da ortodontia na dentição mista e na permanente. Avaliando o padrão da continuidade nos incisivos (dentes da frente), estética, cruzamento transversal da mordida e protrusões (saliências), os autores encontraram melhora de 33% a 46% na dentição mista e de 59% a 60% na permanente. Houve melhora significativa em ambos os estágios, mas a abordagem na dentição permanente teve efetividade estatisticamente superior, principalmente na continuidade dos incisivos (segundo Barrow & White, Alan & Hodgson, Hermanson & Grewe). O tratamento na dentição mista reduziu a severidade na desarmonia entre os dentes.

Não resta dúvida que o tratamento ortodôntico na dentição mista torna eletivo a correção dos permanentes. A dentição mista é caracterizada por incisivos e molares permanentes interpostos pelos caninos e molares decíduos que são substituídos gradativamente por dentes permanentes. Esse é o quadro clinico a partir dos 7 anos de idade, quando é indicado consultar o ortodontista inicialmente. Apesar de toda a comprovação científica desenvolvida em modelo de estudo contundente, há benefícios que devem ser avaliados individualmente em cada caso (Artun, King, Pangrazio). Um paciente que tenha protrusão excessiva dos superiores talvez seja beneficiado do tratamento na dentição mista, por trazer o quanto antes seus incisivos para dentro da boca. O prognatismo mandibular, apesar de raro, também pode ser amenizado nessa fase simplificando o tratamento na dentição permanente. Outra situação é a de um ou dois incisivos girados saindo do padrão dos demais, também poderá ser beneficiado por uma correção pontual antecipada. Quando os problemas são os hábitos deletérios (ruins), a abordagem deve iniciar o quanto antes. Também, a aglomeração dos incisivos poderia ser prevenida na dentição mista.

De fato, é valiosa essa preocupação em corrigir os dentes antes da dentição permanente, especialmente, se for designada uma linguagem que o adolescente possa entender qual seu problema. Os pais podem ajudar informando com precisão a queixa do paciente (Proffit).

Em contrapartida, o responsável pode perguntar para o dentista: e se eu voltar daqui alguns anos, ainda pode tratar meu filho? Quão cedo não é cedo demais para tratar? Isso demonstra que além da estatística, é necessário iniciar na hora certa. Também chamado de timing para o tratamento. Muitas vezes a hora certa é apontada pelo próprio paciente, o qual reporta que está sofrendo bullying por ter os dentes separados ou que seus colegas estão sob tratamento ortodôntico. O fato é que o paciente deve estar ciente da necessidade em aderir ao tratamento, ativando os dispositivos apropriadamente quando solicitado. Do contrário, talvez seja perda de tempo e o problema não se torne menos severo ou o paciente pode declinar durante o tratamento. A vantagem é que nunca é tarde para o tratamento compreensivo na dentição permanente, independente do que foi feito ou não na dentição mista.

Em termos de saúde pública, os autores ponderam que o tratamento na dentição mista pode aumentar a inclusão da população ao reduzir a severidade desses problemas, e assim podemos melhorar os índices de saúde bucal. Entretanto, o tratamento compreensivo nos dentes permanentes produz resultados próximos ao ideal da oclusão normal (estudos de Strang, Casko & Kokich). Dessa maneira, relações normais estarão devidamente estabelecidas entre dentes da mesma arcada e entre arcadas antagonistas.

Por Fernando Martinelli de Lima, ortodontista, mestre e doutor em ortodontia pela URFRJ

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