Falamos bastante sobre o apelo estético para fazer a correção ortodôntica, entretanto a mastigação é o primeiro passo do processo digestivo e pode também ser melhorada. A influência das relações inadequadas entre os dentes, na habilidade mastigatória, é o assunto escolhido por Jeryl English e seus colaboradores da Baylor College of Dentistry no texto publicado pelo jornal da Angle Society. Considerando dentes com relação normal como parâmetro, más oclusões discretas reduzem em 9% a habilidade mastigatória. A protrusão dos dentes superiores em relação aos inferiores reduz em 15% e a protrusão dos dentes inferiores reduz em 34% essa habilidade.
Os dentes que trabalham harmonicamente em conjunto conseguem reduzir o alimento em pedaços menores, facilitando o processo enzimático no sistema digestivo. Por meio de ortodontia, os dentes são corrigidos para uma relação harmônica, beneficiando a atividade normal de mastigação, deglutição e, quem sabe, a digestão. A habilidade mastigatória é uma questão de saúde e pode prevenir certos problemas gástricos, por exemplo, gastrite, úlcera gástrica e má nutrição. A capacidade em reduzir o alimento em partículas diminui, à medida que aumenta a severidade da maloclusão.
Entre outras características, o grau de divergência entre o plano mandibular e a base do crânio interfere nas inserções musculares e influencia a capacidade mastigatória. Entretanto, essa característica nem sempre pode ser corrigida por ortodontia sozinha. De fato, é necessário tratamento multidisciplinar em determinadas situações, já que existem outros fatores determinantes na capacidade mastigatória. No final do tratamento,haverá relações dentárias normais, as quais beneficiam a saúde da articulação temporo-mandibular (ATM), musculatura motora e excursões mandibulares. Nesse ínterim, deve ser considerado que a mastigação é apenas o primeiro estágio no processo digestivo, e há determinados problemas na atividade gastrointestinal que requerem tratamento médico especifico.
Ainda assim, a habilidade mastigatória pode beneficiar a saúde geral de crianças e adultos, tanto quanto à saúde bucal. Em outro texto do mesmo grupo, informam que a capacidade mastigatória melhora significativamente quando o ultimo dente de leite é substituído pelo sucessor permanente. O poder do corte e de moer os alimentos permite melhorar inclusive as escolhas nutritivas. A alimentação deve ser balanceada em nutrientes e não ficar restrita a alimentos pastosos, assim pode estimular a capacidade mastigatória. Mas não precisamos exagerar, a ponto de voltar ao tempo do homem de neandertal que não utilizava talheres e não cozinhava a comida e, por isso, tinha o poder de mastigação excessivamente estimulado.
Segundo o autor, a correção ortodôntica resulta em melhora na capacidade em mastigar, principalmente, em casos de prognatismos. Eu adicionaria ainda que as protrusões dificultam mastigar com boca fechada no convívio social. Quando o primeiro estágio do processo digestivo é eficaz, a atividade gastrointestinal tem melhor condições de suceder normalmente. Assim, o tratamento dos dentes beneficia a saúde geral, que significa a atividade normal do organismo e mantendo equilíbrio com o ambiente. A saúde bucal é especificamente beneficiada em requisitos de mastigação e deglutição. Mastigue de maneira compassada e sinta o sabor do alimento, que isso também é saúde bucal.
Fernando Martinelli de Lima, mestre e doutor em ortodontia pela UFRJ
