Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio
Conviver não é fácil.
Já fiquei com raiva quando, ao dar uma festa no salão do prédio, reclamaram — e com razão — do barulho excessivo. Mesmo sabendo das regras sobre o horário máximo permitido aproveitar sem se preocupar com o volume da música e das risadas.
Também já apertei o botão de fechar a porta do elevador às pressas para impedir que o vizinho mala embarcasse comigo. Já me irritei com as crianças brincando na quadra, aos berros, em um lindo domingo de sol. E já olhei torto para o cara do outro bloco, cujo cachorro late pra mim, me dando sempre um baita susto.
Não sou fácil, eu sei.
Claro que nenhuma dessas situações se compara ao drama dos personagens da série Os Outros, inspirada em casos reais de brigas em condomínios, mostrados em reportagem no Fantástico.
Em Os Outros, uma briga entre adolescentes desencadeia uma tensão entre duas famílias que escala rapidamente para a violência extrema. No condomínio Barra Diamond, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Até o ponto em que Cibele (Adriana Esteves) arranha o carro de Wando (Milhem Cortaz), pai do menino que agrediu seu filho na quadra do condomínio.
Para tirar satisfações, Wando quebra a vidraça do hall de uma das torres, sobe as escadas e arromba a porta do apartamento de Cibele. Para defender sua família, Cibele compra uma arma. Isso tudo acontece nos primeiros dois episódios.
Agoniante. Chocante. Revoltante.
É de se ficar assustado mesmo com tamanha agressividade. E de se refletir o quanto o perigo da violência pode estar ao nosso lado, às vezes até literalmente. Apavora acompanhar uma desmedida selvageria causada pela mais pura dificuldade de viver em sociedade. Mas cuidado com o julgamento. O que mais vale ao assistir à série é a reflexão e a autocrítica.
De certa forma, essa obra também nos incomoda porque nos espelha. É doloroso, afinal, nos reconhecermos enquanto uma sociedade violenta. Intolerante. Impaciente. Assim somos, em nossos pequenos gestos diários. De violência. Intolerância. Impaciência.
É o ficar irritado com a reclamação do vizinho pelo seu excesso de barulho, é o buzinar pro carro da frente que está demorando pra achar o controle do portão.
Podemos, claro, reconhecer nossos medos, mas certamente também reconhecemos nossos monstros. Até porque, no fim das contas, nós também somos os outros.
Nesta semana, no podcast Bá que papo, falamos de Os Outros, a nova série original Globoplay que retrata o papel da intolerância dentro de um condomínio. Além disso compartilhamos experiências pessoais sobre como lidamos convivendo com vizinhos, síndicos e espaços compartilhados.
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Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio