Fernanda Torres em Ainda Estou Aqui

Quem entende um pouco de signo sabe: librianos são indecisos. Essa característica é a mais desafiadora. Mas não a mais bela. Nós, “librianjos”, temos também um senso de justiça apurado – e este é, pra mim, o nosso aspecto mais bonito. 

Por isso, como libriano indeciso e bastante justo, não há situações mais irritantes como ter que fazer escolhas sob pressão e presenciar injustiças. Razão pela qual eu fico tão mal-humorado quando lembro que Fernanda Montenegro, há 25 anos, não recebeu injustamente o Oscar de melhor atriz pela atuação em Central do Brasil (1998).

Ela merecia ter ganhado, e não a atriz Gwyneth Paltrow, que levou a estatueta por Shakespeare Apaixonado (1998). Até a atriz Glenn Close — que atuou, por exemplo, nos filmes Atração Fatal (1987), Ligações Perigosas (1988) e 101 dálmatas — afirmou para a rede americana ABC, em 2020: “a brasileira deveria ter ganhado no lugar de Gwyneth Paltrow”.

Comenta-se que o produtor de Shakespeare Apaixonado, por meio de muita publicidade, ajuda da imprensa e eventos privados (o que violava as regras do Oscar), interferiu na votação dos membros da academia. O famoso lobby.

De qualquer modo, com o lobby ou sem, eles entregariam o Oscar de melhor atriz a uma brasileira? Estamos falando, afinal, da indústria cinematográfica norte-americana, e o seu histórico esforço para impedir o desenvolvimento dessa indústria nos países onde tem influência. E qual a consequência dessa influência, além de Fernanda Montenegro ser injustiçada? A invasão de filmes estrangeiros que causa outras injustiças, como o documentário Fernanda Young – Foge-me ao Controle ter ficado em cartaz poucas semanas, em apenas uma sala de cinema em Porto Alegre — somente em um horário: 15h30. É justo? Não.

Agora, Fernanda Torres, filha de Fernanda Montenegro, é cotada para o Oscar de Melhor Atriz pelo jornalista Kyle Buchanan, em um artigo para o The New York Times. A indicação que pode vir é pela atuação no filme Ainda Estou Aqui.

Estou ansioso para assistir. E para saber: a indústria estadunidense permitirá, desta vez, que Fernandinha faça justiça pela Fernandona, para termos uma reparação histórica? Veremos.

Bá experiência por Diogo Zanella do Estúdio Telescópio.

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