Algumas palavras, de tão usadas, causam ranço. Mais recentemente, com as enchentes no Rio Grande do Sul, resiliência — a habilidade para resistir em situações adversas — foi o vocábulo da vez. Lembro também de empatia — que significa se colocar no lugar do outro. E de lugar de fala — referente ao espaço socialmente ocupado por quem enuncia algo. Todas usadas exaustivamente.
O fato de serem ou terem sido expressões “da moda”, e faladas constantemente até passarem a ser desprezadas, porém, não altera a realidade de que essas palavras ainda existem. E seus respectivos significados importam. Não posso deixar de usá-las, por exemplo, para mencionar o projeto de Lei 1904/24, que tem sido chamado de PL do aborto.
Primeiro, porque não é o meu lugar de fala. Nunca será. Um homem cisgênero jamais estará, de forma equiparada, no mesmo espaço socialmente ocupado por pessoas com útero, ou seja, por pessoas vulneráveis a uma gestação indesejada fruto de estupro. Entender isso, pasmem, é uma questão de quê? De empatia.
Qualquer homem cisgênero que verdadeiramente exercite sua empatia, e imagine o que poderia sentir se estivesse na mesma situação vivenciada por uma vítima de gravidez decorrente de um estupro, intuitivamente se daria conta disso. E perceberia também o quão resiliente uma mulher tem que aprender a ser para simplesmente existir. Esse PL, aliás, é a prova disso.
Para entender mais de que forma o projeto de Lei 1904/24 culmina em toda essa conversa sobre resiliência, empatia e lugar de fala, convoco quem me leu até aqui a ouvir o episódio desta semana do podcast Bá que papo. Convidamos a roteirista e escritora Angelica Kalil, vencedora do prêmio Jabuti Juvenil pelo livro Amigas que se encontraram na história, para falar sobre o tema. E que lembremos: resiliência, empatia e lugar de fala. Sempre.
Ouça agora o podcast no Spotify clicando aqui. Para ler outros textos da coluna Bá experiência, acesse este link.
Bá Experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio
