A maternidade é uma travessia singular, feita de descobertas, renúncias e reinvenções. Em um mundo onde informação está à distância de um clique, ser mãe se tornou uma experiência paradoxal: temos mais recursos, mas também mais cobranças. E sendo e estando perto de muitas mães penso que essa sobrecarga vem da tentativa constante de corresponder ao modelo idealizado de mãe — presente, paciente, criativa e incansável.
Em seu livro Eu Era Uma Ótima Mãe Até Ter Filhos, Trisha Ashworth e Amy Nobile exploram justamente essa desconexão entre expectativas e realidade. A maternidade real, que é feita de momentos belos e exaustivos, elas abordam numa narrativa franca um equilíbrio delicado entre o amor profundo e a necessidade urgente de pausa. Elas nos lembram que ser uma boa mãe não é falhar, mas estar disposta a recomeçar todos os dias.
Trago aqui também o livro A Mulher de Dois Esqueletos, de Julia Dantas, que aborda de forma visceral o impacto das transformações que a vida impõe ao corpo e à mente. Na maternidade, essas mudanças são intensas e inescapáveis. O corpo de uma mãe guarda histórias de cansaço, entrega e resistência. É um diário vivo das batalhas cotidianas.
Por isso, nunca foi tão necessário falar sobre rede de apoio. Criar filhos não deve ser uma jornada solitária. Pais presentes e engajados não são uma exceção, mas uma necessidade. Dividir responsabilidades não significa “ajudar” a mãe — significa fazer parte, compartilhar o peso e os momentos de alegria.
É muito importante que as mulheres, as mães, continuem reivindicando seus espaços para poderem conciliar a maternidade e o trabalho, com tempo e apoio suficientes para desempenharem seus papéis com mais leveza. Da mesma forma, é fundamental que os pais também tenham mais oportunidades para participar dessa jornada.
Imaginem como seria melhor se os pais tivessem mais tempo para dividir as responsabilidades, por exemplo, desde o início, no nascimento do seu bebê, com uma licença-paternidade mais longa. Em alguns países europeus, como a Suécia, pais podem ter até 480 dias de licença parental compartilhada com a mãe, promovendo uma criação mais equilibrada e justa.
A maternidade é uma experiência plural. Cada história é única, mas todas compartilham algo essencial: a força que surge mesmo nas fraquezas, o amor que cresce apesar das imperfeições. Ser mãe é habitar essa dualidade e encontrar, entre os desafios, o espaço para ser humana.
Valesca Karsten
Educadora e proprietária da Escola de Educação Infantil Caracol de Porto Alegre e idealizadora do Podcast PodeMãe