A verdade é a primeira vítima das guerras, mas as novas tecnologias estão mudando essa história
Bem cedinho na manhã do dia 11 de setembro de 2001 eu rumei para uma entrevista com um grupo de jovens fundamentalistas islâmicos em um apartamento na cidade uruguaia do Chuy, que é separada por uma avenida do município gaúcho de Chuí, no extremo sul do estado. Quando entrei no apartamento, num prédio de poucos andares, a algumas quadras da fronteira com o Brasil, tive a minha atenção despertada para o tamanho de um aparelho de TV, que parecia ser maior que a sala onde o grupo de jovens estava sentado em dois sofás. Eles estavam de passagem pela cidade e rumando para Montevidéu, a capital do Uruguai, de onde embarcariam num voo para a Europa. Começamos a conversa e não se passaram nem 10 minutos quando apareceu na TV a imagem do primeiro avião sendo jogado contra as Torres Gêmeas, em Nova York, nos Estados Unidos. Os jovens começaram a falar em árabe e o meu contato, uma fonte que havia conseguido a entrevista, me pediu que saísse. Logo que saí e fecharam a porta do apartamento ouvi gritos de comemoração. Por que eu estava lá justamente no minuto que começou o ataque de 11 de setembro? Por uma dessas coincidências que às vezes acontecem na vida do repórter. Estava lá porque havia uns três meses vinha fazendo uma reportagem investigativa que pretendia responder a uma pergunta: existiam ou não terroristas fundamentalistas islâmicos nas fronteiras do Brasil? Na época, os serviços de inteligência americanos acusavam o governo brasileiro de fazer vistas grossas para a presença de terroristas nas fronteiras.
Fui escolhido para fazer a matéria por ser repórter investigativo e ter como uma das minhas especialidades o crime organizado nas fronteiras. Por essa razão, sempre tive boas fontes nessas regiões. Depois dos atentados de 11 de setembro fiquei mais de meio ano fazendo reportagens sobre terrorismo nas fronteiras brasileiras, especialmente com a do Paraguai. Por conta disso, convivi muito com agentes de inteligência da Polícia Federal (PF) e de agências americanas, israelitas, paraguaias e argentinas em Foz do Iguaçu, cidade do oeste do Paraná, na chamada Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina. Por ser densamente povoada por comerciantes árabes e asiáticos, além de pessoas procedentes de outros cantos do mundo, os americanos consideravam a região um esconderijo natural para terroristas. Durante a convivência que tive nesse período com agentes dos serviços de inteligência aprendi a lidar com esses caras. Eles são escorregadios, cheios de conversa fiada, e adoram usar a imprensa para plantar versões mentirosas dos fatos. Contei essa história por ter ouvido o embaixador de Israel nas Nações Unidas (ONU), Gilad Erlan, no domingo (08/10), comparar o 11 de setembro nos Estados Unidos com a invasão e a carnificina feita na invasão do território israelense pelos terroristas do Movimento de Resistência Islâmica, conhecido como Hamas, que dirige o território de Gaza e tem um braço filantrópico e outro armado. Não vou entrar nessa história de comparação – há material suficiente na internet para quem se interessa pelo assunto. Vou conversar com os meus colegas sobre o que vi de diferente nesse episódio da invasão de Israel pelo Hamas de outras guerras. Em primeiro lugar, o uso das novas tecnologias de comunicação, com destaque para os celulares, a exemplo do que está acontecendo na guerra entre Rússia e Ucrânia. Em 22 de março de 2022 escrevi o post Os pais dos soldados da guerra da Ucrânia e o destino dos seus filhos. Eles ficam sabendo do destino do filho no momento exato do acontecimento, porque a guerra é transmitida on-line pelos celulares.
A invasão do território israelense pelos terroristas do Hamas está sendo explicada passo a passo pelos noticiários das TVs a cabo. A execução de civis pelos terroristas pode ser vista nas redes sociais. Inclusive, a história de Ranani Glazer, 24 anos, gaúcho (brasileiro-israelense) que estava em um show musical invadido pelos terroristas, que entraram atirando em todo mundo e fazendo dezenas de reféns. Glazer se refugiou em um bunker e antes de ser morto fez transmissões on-line para as redes sociais. Ele é uma das três vítimas brasileiras na guerra Israel-Hamas. A retaliação que o exército israelense está fazendo na Faixa de Gaza, com artilharia e bombardeios aéreos, também está sendo transmitida on-line pelos celulares dos moradores. A história dessa guerra será contada pelas imagens e depoimentos que circulam nas redes sociais. Nas primeiras 48 horas do conflito morreram 2 mil pessoas (incluindo 11 latino-americanos, sendo dois brasileiros), a maioria civis. No terceiro dia da cobertura começou a acontecer uma mudança no conteúdo dos jornais, das redes de TV e de outras plataformas de comunicação. A pergunta que todos os jornalistas, em especial os comentaristas especializados em coberturas de guerra, começaram a fazer era: como o Hamas pôde planejar uma operação de tamanha envergadura sem ser detectado pelo serviço de inteligência israelita, considerado um dos melhores do mundo. Por que os batalhões do exército israelita que ficam de plantão para dar uma resposta imediata em situações de emergência demoraram tanto a agir? A resposta para essas duas perguntas e outras apontou na direção do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, 73 anos. Em outras ocasiões, ele seria blindado em uma situação semelhante. O que aconteceu? Os jornalistas, em especial os israelenses, lembraram que Netanyahu responde a duas acusações criminais na Justiça. E que, por conta disso, vem tentando dar um golpe judicial, mudando as leis do país. Nos últimos meses, manifestantes têm lotado as ruas e avenidas das cidades israelenses pedindo a cabeça do primeiro-ministro. Para permanecer no governo, ele fez uma aliança com a extrema direita religiosa, um grupo que não reconhece a existência dos palestinos, assim como o Hamas não reconhece Israel. Li um artigo do jornalista Thomas Friedman, publicado no The New York Times e no Estadão. De maneira serena e cheio de bons argumentos, Friedman afirma que, no fim de tudo, Netanyahu deverá prestar contas para a Justiça.
Ainda tem mais uma história. Circulou uma notícia de que os serviços de inteligência do Egito, país aliado de Israel, avisaram as forças armadas israelenses que o Hamas estava planejando uma grande ofensiva. O primeiro-ministro desmentiu a notícia. Arrematando a nossa conversa. Comecei a escrever este texto pensando no livro A Primeira Vítima, do jornalista australiano Phillip Knightley (1929-2016). Ele diz que a primeira vítima em uma guerra é a verdade. Por muitas décadas essa era a realidade. Os governos contavam a sua versão dos fatos e ela virava a história oficial do conflito. Hoje, graças às modernas tecnologias de comunicação, é possível acompanhar em tempo real os acontecimentos dos campos de batalha e seus desdobramentos entre as quatro paredes dos governos. Isso nos dá uma chance de escrever a real história dos fatos. Claro, existem as fake news. Mas também existem as agências de verificação.
Por Carlos Wagner, jornalista e repórter investigativo
Não entendi o ponto da tua reportagem.
Narrativa sobre a divulgação do 11 de setembro ?
Questionar pq Israel falhou ?
Desculpa amiga, mas o que importa nesse momento eh uma pessoa como tu, integra, formadora de opinião falar em alto e bom tom que o que está acontecendo é uma atrocidade a humanidade! Eh terrorismo! Eh triste e causa indignação! Não existem duas narrativas! O Hamas NÃO É UM GRUPO DE RESISTÊNCIA E SIM UM GRUPO TERRORISTA e está matando indiscriminadamente crianças, mulheres, idosos, de uma forma bruta, cruel e sem explicação.
Hamas é um grupo terrorista.
Sem duvidas! Como está escrito em várias partes do texto acima! bjoossss Lucia!
O Hamas é um GRUPO TERRORISTA e não um “Movimento de Resistência Islâmica”. 😢
A comparação do 11/9 ao ataque TERRORISTA do Hamas ocorrido no Sábado, só existe em termos de proporcionalidade. Foram 8 x 9/11 em um só dia sendo que não parou por aí. O Hamas ainda sequestrou centenas de pessoas, na maioria mulheres e crianças as quais conforme os próprios TERRORISTAS se orgulham de afirmar, estão sendo torturados e estuporados (inclusive as crianças).
Não está acontecendo um confronto entre Palestinos e Judeus e sim um ataque TERRORISTA do Hamas aos Judeus. Achei de péssima escolha o artigo que a revista escolheu para compartilhar com seus leitores.
Hamas é um GRUPO TERRORISTA e não um “Movimento de Resistência Islâmica” como fala no artigo.