Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio
Esta semana, no Instagram de uma cliente do Estúdio Telescópio, que é maga, foi publicado um conteúdo sobre a lei do retorno. Um trecho me chamou atenção.
“A lei do retorno nada mais é do que colher obrigatoriamente aquilo que se planta livremente. Temos que plantar o bem, porque ele vai, em algum momento, voltar”. Não sou iniciado em nenhuma religião, mas acredito no poder do universo e do próprio pensamento para atrairmos o que há de positivo para nossas vidas. E, quando li sobre a lei do retorno, a associação com Valéria Barcellos, a Luana da novela Terra e Paixão, foi imediata.
Vi a Valéria pela primeira vez, possivelmente, em uma terça ou sexta de 2008 ou 2009, no bar Venezianos, em Porto Alegre. O primeiro lugar da capital gaúcha em que ela cantou, duas semanas após chegar de Santo Ângelo, em 2006.
Uma das alegrias do frescor da juventude, quando eu tinha 20 anos, era o privilégio de poder sair à noite em plena terça-feira e em outros dias da semana. Mais especificamente, de estar no Venezianos, um dos lugares que me proporcionou liberdade para eu ser eu mesmo, me sentir em casa e fazer parte de uma coletividade não encontrada em todos os espaços. Onde Valéria Houston, seu nome artístico anterior, cantava e imprimia sua voz, seu carisma, sua simpatia e sua generosidade. E se tornava uma figura marcante na noite, na comunidade LGBTQIA+ e no meio artístico e cultural da cidade.
Vê-la no domingo, dia 24, no encerramento da primeira temporada do stand up Isso a TV não Mostra, foi uma cápsula do tempo. Afinal, além do roteiro de histórias cômicas, a apresentação foi repleta de música e canto, cujos tons graves e agudos de sua voz inconfundivelmente própria nos transportou para o Venê, e todas as sensações daquelas noites de 15 anos atrás.
Presenciar seu carisma e sua generosidade, o mesmo de sempre, foi o que me fez lembrar do texto sobre a lei do retorno. Porque não há dúvidas do merecimento que Valéria tem para ocupar os lugares que hoje ocupa, tanto pela artista quanto pelo ser humano iluminado que ela é. A trajetória da Valéria Barcellos é de resistência. Resistiu a um câncer, a um episódio grave e violento de transfobia e ao desafio que é viver de arte no nosso país. E sempre respondeu a tudo com dignidade.
Em 2012, ela deu entrevista a um jornal, ao lado da estátua em homenagem à Elis Regina, na usina do Gasômetro, em Porto Alegre. E disse: “Imaginou se eu tivesse tido a honra de cantar ao teu lado, hein, Elis? Quem sabe tu não mandas energias para que a tua filha (Maria Rita) me conheça?”.
Hoje, sem dúvida, não só Maria Rita, mas os maiores nomes da música a conhecem. E um público gigante que forma a audiência deTerra e Paixão. Se teve uma força da Elis ou se foi fruto exclusivo do talento e dedicação à arte, não sei. Mas, de lá pra cá, com toda certeza, boas energias não faltaram. Como diria a Aline, protagonista da novela: ela plantou, ela colheu e ela venceu.
Nesta semana, no podcast Bá que papo, recebemos Valéria Barcellos, com quem conversamos no camarim do Porto Alegre Comedy Club, após a última apresentação da temporada de estreia do stand up Isso a TV Não Mostra.
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Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio