Não tenho vergonha. Essa foi a frase que Madonna disse quando suas fotos nua foram indevidamente publicadas.
Ao chegar a Nova Iorque, com 19 anos, Madonna foi garçonete em um restaurante da rede Dunkin’ Donuts e foi também modelo fotográfica, enquanto estudava na Escola de Dança Martha Graham.
Em um dos trabalhos modelando, ela posou nua para aulas de pintura, desenho e fotografia em uma escola de arte. Depois de se tornar famosa, porém, as fotografias foram vendidas. Uma delas, com Madonna nua de corpo inteiro, foi publicada na revista PlayBoy, em 1985, durante a turnê “Virgin Tour”. Aos jornais, ela declarou apenas: “Não sinto vergonha de nada“.
Se você adotar esse mantra para a sua vida — como eu decidi um dia fazer —, verá o quão transformador é ter essa postura de amor próprio diante da vida. Digo mesmo por experiência própria.
Para quem foi uma criança gay nos anos 1990, e um adolescente gay nos anos 2000, a palavra vergonha tem um significado mais doloroso do que pode ter para outras pessoas. Crescemos, afinal, sendo hostilizados e ensinados que a nossa condição era vergonhosa. É por isso que existem datas afirmativas, como o Dia do Orgulho LGBTQIA+.
Antes de aderir ao mantra “não sinto vergonha de nada”, eu vivia bastante preocupado com a opinião dos outros. O que me deixava bem constrangido ao demonstrar afeto em público, inclusive no Dia dos Namorados.
Essa data, aliás, foi criada pelo João Dória, pai do João Dória Jr. Na década de 1940, João Dória era publicitário na Standard Propaganda, a agência contratada pelo empresário Nilo de Souza Carvalho para alavancar suas vendas em uma loja de departamentos, consideradas fracas entre o Dia das Mães e o Dia dos Pais pelo varejo até aquele ano. Com o slogan “Não é só com beijos que se prova o amor”, estimulando os casais a trocar presentes, a campanha foi um sucesso, e estabeleceu o 12 de de junho como Dia dos Namorados no Brasil. No mesmo mês do orgulho LGBTQIA+.
Se precisamos de uma data para lembrar de ter “orgulho” é porque tivemos que conviver, primeiro, com a “vergonha”. Essa é a razão pela qual o mês de junho, para mim, é muito significativo. Porque, além de ser marcado por atos no mundo inteiro do movimento LGBTQIA+ — em referência à revolta de Stonewall — para nós, brasileiros, este é o mês em que se celebra o Dia dos Namorados, como já mencionei.
Isto posto, neste mês dos namorados — e do orgulho —, quero dizer a todas as pessoas LGBTQIA+ que já se sentiram constrangidas em lugares públicos por andarem com seus pares, inclusive para celebrar o 12 de junho: não é só com beijos que se prova o amor. Provamos também com orgulho. E coragem, e largando o foda-se pra gente careta e perversa, que insiste em nos fazer pensar que temos motivos para nos envergonharmos. Não temos. Sempre que passarem por essas pessoas, lembrem-se de Madonna. e repitam o mantra: “Não sinto vergonha de nada“.
Esta semana, no podcast Ba que papo, tivemos um surto de episódio para falar sobre o Dia dos Namorados. Abrimos um pouco da intimidade? Talvez! Comentamos atualidades em torno de relacionamentos? Claro! Um episódio espontâneo e cheio de energia.
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Bá experiência por Diogo Zanella/Estúdio Telescópio