Os primeiros e últimos dias do ano quase sempre são ritualísticos ou parecidos na nossa cultura. Vai do gosto do freguês, mas geralmente tem família, amigos, quem pode vai para perto do mar… Ah- MAR… Sete ondinhas, luzes, fogos, festas, lentilha, sal grosso, uvas, brindes, cerejas, cervejas, biquinis e calcinhas coloridas… Renovamos desejos antigos e promessas cansadas. Encontramos as mesmas pessoas em volta de mesas parecidas. Monótonas ou eufóricas. Umas com sono, outras animadas. Vestidos e destinos novos, manias velhas, ânimos impacientes, saldos escassos, excessos de presentes ou ausências mórbidas que não cansam de habitar nossas rotinas cheias e ao mesmo tempo vazias.
O que fazer além de agradecer o trajeto até aqui? Mesmo que algo tenha ficado aquém das nossas expectativas perfeitas ou opiniões engessadas, celebramos o correr mágico e inquieto da vida. Ganhamos vacinas, renovamos a esperança, penduramos as máscaras, as chuteiras jamais.
Nos frustramos com o que poderia ter andado melhor. O primeiro mês do ano chega ao fim, e a cada início e final de ciclo é um pouco assim. Somos inundadas por doses descontroladas de humanidade e de uma coleção infinita de memórias afetivas: frágeis, bonitas ou difíceis. É triste ver que amizades estão perdendo o sentido e as famílias se distanciando. Evoluir é fugir da exaustão e da confusão e iniciar uma marcha suave e sem fim na direção da saúde física e emocional. Hora a hora, dia a dia, ano a ano. Porque assim é mais gostoso de viver. Nem sempre os trajetos que esperamos percorrer são os melhores para a caminhada. Só eletrodomésticos são controláveis. Temos livre arbítrio sobre as nossas decisões, não sobre as vontades dos outros. Não adianta espernear e desejar mais leveza se os pesos que seguem oprimindo a nós e a quem nos cerca moram nas nossas almas.
Meu 2022 foi como a vida: intenso, surpreendente e complexo. Comecei eufórica e otimista, cheia de gás após 17 dias de confinamento com Covid. Perdi peso, controle, paciência, explodi, denunciei abusadores, tombei ouvindo o silêncio ensurdecedor do poder. Constelação, centro espírita, yoga, tantra, reza e terapia foram juntando os meus pedaços com alguma dignidade e calma. Calma? Nunca foi uma qualidade que eu soube cultivar. Andiamo… ganhei o mundo, me despedi sozinha de um amigo precioso, mas a vida é boa e insiste em me presentear com os seres humanos. Eu A.M.O viver rodeada deles, mas também me sinto tão cansada. Levantei guenza. Não desisto nunca. Sou mais insistente do que decidida. Às vezes dá certo. Minha verdade interna é visceral, mas meu instagram também é fofinho e sorridente. Vulnerabilidade é mesmo um troço que não dá em árvore. Falando nisso, o ano mal começou e duas estrelas internacionais arrebataram os holofotes e as paradas de sucesso do mundo: Shakira e Miley Cyrus estão multiplicando suas fortunas enquanto se revezam no topo das paradas surfando na onda das traições que sofreram de seus parceiros. Ambas fizeram um belo churrasco com a própria carne. A canção da americana é linda e mais lúdica e o clipe bombástico foi gravado na mansão em que o ex da cantora a traiu 14 vezes. A deusa colombiana foi mais direta. “Ah, mas que barraco!” Barraco é ser desleal. “Ela está recalcada!” Será? Só porque transformou em mais sucesso e dinheiro a própria realidade? “Mas não pensa nos filhos?” Pensa sim, aposto que eles vão morrer de orgulho da mamacita papo reto. Até porque o single até já engordou a conta bancária com novos contratos do papai ex-craque e mentiroso. “Mas por que expor assim a própria tragédia?” Porque ela é corajosa, tem uma voz imensa que reverbera nos quatro cantos do planeta e essa voz pode deixar mais fortes outras mulheres traídas. Está explicado o sucesso estrondoso e imediato porque convenhamos, quem nunquinha amargou a dor de uma traição? Ou é solteira(o) ou mal informada(o)… Brincadeirinhas verdadeiras à parte…
Vem 2023, com geleias de morango reveladoras, amor & vulnerabilidade.
Mariana Bertolucci
Amo tua escrita, carne viva exposta, vulnerável, potente. Que sejamos mais antifrageis ainda em 2023 que já não está bolinho. Te amo